quinta-feira, 24 de março de 2016

Páscoa sem ovo de chocolate é o mesmo que Natal sem Papai Noel.

Alguém já disse que Páscoa sem ovo de chocolate é o mesmo que Natal sem Papai Noel. Para nós, cristãos, tornou-se símbolo de Cristo e de sua Ressurreição, juntamente com o coelhinho, animal que representa a fertilidade, devido à sua incrível capacidade de procriação. São tradições antiquíssimas que seguimos respeitando. Para celebrar a chegada da primavera, chineses pintavam ovos de aves, geralmente de galinhas e gansos, com cores bem alegres. Egípcios e persas também cultivavam essa tradição. Para eles, os ovos representavam o início de tudo, remetiam à prosperidade, à fartura, a regeneração da vida ao fim do inverno. Ao longo dos séculos, o costume de pintá-los, antes de serem ofertados, permaneceu principalmente na Ucrânia, onde trazem ilustrações do trigo, que significa fartura; do peixe, associado a Jesus Cristo; da flor, que representa o amor; e da cruz, emblema maior do cristianismo.

Passeando pela história, ficamos sabendo que o rei inglês Eduardo I (1239-1307) costumava oferecer ovos banhados em ouro a seus súditos. Luís XIV (1638-1715), por sua vez, dava ovos pintados e decorados. Luís XV (1710-1774) presenteou sua filha, Madame Victoire, com alguns ovos pintados por Antoine Watteau – expostos atualmente no Museu do Louvre –, e sua amante preferida, Madame du Barry (1743-1793), com um ovo enorme em cujo interior havia uma estátua de Cupido. Na Rússia, era costume as mulheres usarem joias com pedras preciosas encrustadas em formato de ovos, durante as festividades da Páscoa. Esses fatos devem ter influenciado o joalheiro Peter Carl Fabergé na criação de seus valiosos e famosos ovos Fabergé, crivados com pedras preciosas, trocados pelos membros da família real russa, entre o final do século XIX e o início do século XX.

Depois do descobrimento da América, os colonizadores espanhóis conheceram o chocolate e levaram as primeiras mudas de cacaueiro para a Europa. Foram necessários um pouco mais de 800 anos para que os ovos de chocolate surgissem na França, por obra dos confeiteiros parisienses. Eles retiraram o conteúdo dos ovos, geralmente de galinhas, e o rechearam com chocolate. Já no século seguinte, com o aprimoramento das técnicas, criaram-se os ovos produzidos totalmente com chocolate: os irresistíveis ovos de Páscoa.

Essa e outras dezenas de histórias sobre o delicioso mundo da confeitaria, você encontra no Histórias, lendas e curiosidades da confeitaria e suas receitas (Senac, 2015).

Foto: Divulgação


Ovo de Páscoa
Por Debora Damin
1 unidade (500g)

Ingredientes
Para o ovo
500g de chocolate meio amargo com 70% de cacau em pedaços

Para o recheio
250ml de creme de leite fresco
300g de chocolate italiano para cobertura ou chocolate meio amargo
80ml de Cointreau®

Preparo
Ovo
Coloque os pedaços de chocolate em um refratário e leve ao forno de micro-ondas por 1 minuto em potência alta. Retire e mexa bem.
Volte ao micro-ondas e repita a operação quantas vezes forem necessárias até o chocolate derreter por completo.
Despeje o chocolate em uma pedra de mármore ou granito. Com uma espátula de inox, faça movimentos rápidos para resfriá-lo.
Coloque o chocolate de volta no refratário e, com um termômetro culinário, verifique se o chocolate atingiu 31°C. Outra opção para medir a temperatura ideal é colocar um pingo do chocolate no lábio inferior: se a sensação for de frio, está pronto para ser usado.
Despeje o chocolate em uma fôrma de 250g, própria para ovo de Páscoa, até a linha de marcação e espalhe para as bordas.
Pegue a outra parte da fôrma e pressione levemente sobre o chocolate para que ele se espalhe. Dê batidinhas nela para tirar as bolhas de ar do chocolate.
Vire a fôrma sobre o refratário com o chocolate derretido para escorrer o excesso. Limpe as bordas e deite a fôrma de boca para baixo sobre uma superfície plana (use uma tábua de cozinha ou uma assadeira). Reserve o chocolate que sobrar.
Leve à geladeira por 8 a 10 minutos ou até o verso da fôrma ficar esbranquiçado.

Recheio
Leve o creme de leite para ferver em uma panela de fundo reforçado.
Rale o chocolate em lascas finas e junte ao creme de leite, mexendo com uma espátula.
Adicione o licor e misture bem.
Leve à geladeira por 12 horas, em uma tigela coberta com filme plástico.

Montagem
Desenforme o ovo com cuidado.
Use um mixer para aerar o recheio.
Preencha as cavidades do ovo com o recheio e cubra com o restante do chocolate derretido reservado. Leve à geladeira por 10 minutos.
Retire da geladeira, junte as partes, embrulhe em papel-alumínio e leve para gelar novamente por cerca de 12 horas.
Finalize com celofane transparente e laço de cetim.


quarta-feira, 23 de março de 2016

Coxinha: paixão nacional de origem francesa

Estrela de bares, botecos e lanchonentes, a coxinha é muito popular no Brasil, mas sua origem é francesa. Desembarcou por aqui no século 19, junto com a corte portuguesa de d.João VI.

A versão mais conhecida conta que graças aos caprichos de um garotinho fissurado em peito e coxas de galinha, a Fazenda Morro Azul, em Limeira, no interior de São Paulo, foi berço do nascimento da coxinha de galinha. Filho da princesa Isabel e do conde D’Eu, foi criado isolado nesta fazenda, longe da corte, porque seria considerado deficiente mental. Certo dia, ao perceber que não havia peito e coxas suficientes para o almoço e prevendo a gritaria do menino pela falta de sua comida predileta, a cozinheira da fazenda resolveu desfiar as demais partes e moldá-las em uma massa à base de farinha e batata. O garotinho adorou. Curiosa sobre a iguaria que tanto encantara seu neto, a imperatriz Tereza Cristina, em visita à fazenda, quis experimentar. Gostou tanto que solicitou que o modo de preparo fosse fornecido ao mestre da cozinha imperial. Assim, a coxinha de galinha foi introduzida na Corte e conquistou os salões da realeza brasileira.

Essa versão, que publiquei em meu livro, Histórias, lendas e curiosidades da gastronomia (Senac, 2011), não encontra respaldo algum na história. Apenas faz parte, da tradição oral da cidade de Limeira. Vamos aos fatos:

A família real se hospedou na fazenda Morro Azul, em Limeira, mas não há registro de que a princesa tenha tido um filho com problemas mentais. Seus três filhos – d.Pedro de Alcântara, d.Luís Maria e d.Antônio Gastão Filipe – gozavam de excelente saúde física e mental.

Lucas Rigaud, cozinheiro da trisavó da princesa, d.Maria I, na última edição de seu livro, Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinha,  ensina uma receita de "coxas de frangas ou galinhas novas". Diz a receita que as coxas devem ser desossadas, conservando a pele, e recheadas com um picado fino. Depois devem ser mergulhadas em molho béchamel, fechadas com barbante, passadas em ovos batidos, pão ralado fino e fritas em banha.

Por fim, Antoine Carême, em seu livro, L'Art de la Cuisine Française au XIXème Siécle - Traité des Entrées Chaudes (Paris, 1844), chama a coxinha de "croquette de poulet" e aconselha moldá-la "em forme de poires".


Receita do Frangó Bar (SP)
20 unidades

Ingredientes
Para a massa
300 g de farinha de trigo
15 g de caldo de galinha em cubinhos
300 ml de água
30 ml de óleo

Para o recheio
200 g de frango desfiado
Catupiry, sal e salsinha a gosto

Para finalizar
Farinha de rosca para empanar
Óleo para fritar

Modo de preparo
Massa
Aqueça a água com o óleo e o caldo de galinha em fogo baixo por 5 minutos.
Adicione a farinha de trigo e mexa até formar a massa.

Recheio
Tempere o frango desfiado com sal e salsinha e misture com o catupiry.

Finalização
Pegue um pouco de massa e abra na palma da mão. Acrescente o recheio e forme a coxinha. Empane na farinha de rosca e frite em óleo quente.